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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Erliquiose Canina


O que é a Erliquiose canina?

É uma grave doença infecciosa transmitida pelo carrapato, que acomete animais da família canidae que são lobos, cães e chacais. O primeiro registro dessa enfermidade no Brasil foi em 1973, na cidade de Belo Horizonte. Passou por diversas nomenclaturas no passado, tais como: pancitopenia tropical canina, riquetsiose canina, tifo canino, síndrome hemorrágica idiopática, febre hemorrágica canina, moléstia do cão rastreador e, atualmente é denominada erlichiose monocítica canina (EMC).
O carrapato que transmite tal doença recebe o nome de Riphicephalus sanguineus ou carrapato vermelho do cão. Eles possuem hábito nidícola, ou seja, vivem em ninhos, toca ou abrigo de seus hospedeiros, gostam de lugares quentes e escuros.
Uma fêmea adulta pode ovipor em média 4.000 ovos que eclodem em 2 a 7 semanas, liberando as larvas que irão se alimentar por 3 a 12 dias, estas lavas alimentadas caem do hospedeiro e permanecem fora por 6 a 90 dias quando se transformam em ninfa. As ninfas também se alimentam por um curto período 3-10 dias, depois de alimentadas voltam ao ambiente para se tornarem adultas. Geralmente para completar seu ciclo necessitam de três hospedeiros, para larva, ninfa e adulto, mas o carrapato pode completar seu ciclo de vida com apenas um animal como hospedeiro se desprendendo do animai ao final de cada repasto sanguíneo (alimentação). Parasitam principalmente a cabeça, pescoço, orelhas e entre os dedos. São muito comuns em áreas urbanas. A quantidade de carrapatos que está no animal equivale a 5% da população de carrapatos que vivem no ambiente, ou seja, 95% destes estão no ambiente. É importante lembrar que, além da erliquiose, este parasita também transmite aos cães a Babesiose e a Hepatozoonose.
Como o cão se contamina?
O R. sanguineus (carrapato vermelho) transmite a Erliquiose para os cães, pela saliva enquanto se alimenta com o sangue do animal. A doença tem um período de incubação de 1-3 semanas.
Quais são os sintomas?
A fase inicial da infecção ou fase aguda, geralmente traz um quadro de febre, que pode variar entre 39,5 ºC e 41,5 ºC. Em geral, o animal apresenta ainda perda de apetite, com conseqüente perda de peso. Pode apresentar ainda fraqueza muscular. Alguns cães, que apresentam quadro mais grave na fase aguda, podem apresentar secreção nasal, uveite, param totalmente de se alimentar, apatia, depressão, sangramento nasal, urina com sangue (hematúria), sangramento digestivo, náuseas, vômitos, inchaço nas patas, dificuldade para respirar.
A fase aguda pode durar cerca de 4 semanas e, se não for muito intensa ou se o animal permanece por longos períodos sozinho, pode passar desapercebida pelo proprietário. Alguns animais apresentam a doença numa forma subclínica, isto é, sem sinais e sintomas aparentes. Os proprietários mais atenciosos podem perceber palidez de mucosas, perda de apetite e/ou inchaço nos membros. Quando avaliado pelo veterinário, geralmente é detectada anemia, sinal de algum sangramento que não foi notado. Em alguns cães a infecção pode ser persistente e quando ocorre uma queda de imunidade, onde o organismo não consiga combater e eliminar a bactéria, este apresentará a fase crônica da doença, estes animais podem apresentar anemia, fraqueza, o animal pode ser acometido por infecções secundárias, oportunistas, causando pneumonia, diarréia, lesões na pele, e outros.
Como diagnosticar?
O diagnóstico é feito através do histórico (presença de carrapatos ou área endêmica da doença), sinais clínicos e achados de exames laboratoriais. A Erlichia canis afeta determinadas células do sangue, levando a um baixo número circulante delas e tal achado em associação aos sinais clínicos pode ser sugestivo da doença. Exames bioquímicos e urinálise são importantes para detectar alterações precoces em outros órgãos, principalmente os rins.
Exames mais específicos como sorologia e PCR, são úteis para se chegar ao diagnóstico. Alguns cães podem estar concomitantemente infectados pela erliquiose e babesiose, ou mesmo hepatozoonose, visto todas serem transmitidas pelo mesmo carrapato.
A erliquiose tem cura?
Tem cura sim, se tratada adequadamente. As chances de cura são maiores quando o tratamento é iniciado precocemente. Quando tratada no início da doença, após cerca de 48 horas do início do tratamento já pode ser observada melhora no estado geral do animal.
Quanto antes o animal for levado ao Médico Veterinário, mais chances ele tem de sobreviver a esta doença. Erliquiose é uma doença fatal se não tratada.
Como é feito o tratamento?
O tratamento tem a intenção de combater o microorganismo, bem como tratar as lesões por ele causadas. A terapia básica consiste em antibioticoterapia (doxicilina) via oral com droga específica durante 28 dias. Em alguns casos pode ser necessário uso de droga injetável aplicada a cada 7-15 dias. Dependendo da gravidade dos sinais o cão precisará de internamento para fluidoterapia e transfusão sanguínea. O sucesso do tratamento irá depender da fase da doença e gravidade dos sinais que o cão apresenta, visto que em estágios avançados da erliquiose pode ocorrer aplasia de medula- a medula óssea para de funcionar. O combate ao carrapato transmissor da doença é muito importante para o tratamento, evitando o risco de re-infecção e de transmissão a outros animais sadios. Para tal, devem ser utilizados carrapaticidas no ambiente e também no animal. A coleira anticarrapato deve ser usada pelo cão, bem como produtos em banho medicinal e de aplicação na pele.

Os humanos pode pegar erliquiose?
Não há relatos de casos de erliquiose canina em humanos, entretanto, outros tipos de bactéria erlichia, que não a canis, podem transmitir outro tipo de erliquiose para humanos, também através de carrapatos. A incidência de erliquiose em humanos tem tido um aumento significativo nos Estados Unidos. Felizmente, ainda há poucos casos diagnosticados no Brasil.
 Como prevenir?
A prevenção deve ser feita através da dedetização minuciosa de cada canto ambiente em que o animal vive com produtos específicos para limpeza do ambiente como o butox, colosso, lembrando que estes produtos não devem ser usados nos animais, deve ser feito a limpeza do ambiente quando o animal não estiver no local, e a limpeza do ambiente deve ser feito em conjunto com a limpeza do animal com banhos medicinais, uso de produtos pour on, coleiras carrapaticidas.
Como a erliquiose não é transmitida via transovariana no carrapato, a doença pode ser eliminada no meio ambiente pelo controle dos carrapatos e pelo tratamento de todos os cães por toda uma geração de carrapatos. O R. sanguineus pode transmitir a erliquiose por aproximadamente 155 dias.
Prevenir é sempre o melhor remédio! É preciso combater os casos de Erliquiose para preservar a saúde de nossos animais!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

HIPOTIREOIDISMO EM CÃES



1. Introdução
O hipotireoidismo canino é uma desordem endócrina estrutural e/ou funcional caracterizada pela deficiência na produção de hormônios tireoidianos.
2 . Etiologia
O hipotireoidismo pode ocorrer a partir de uma falha em qualquer ponto do eixo hipotálamo-hipófise-tireóide, onde podemos classificá-las em:
Hipotireoidismo primário:
Este quadro é determinado por diversos processos patológicos que irão causar a destruição do tecido glandular da tireóide, resultando em deficiência na produção dos hormônios tireoidianos. O hipotireoidismo primário representa 95% dos casos clínicos de hipotireoidismo e a prevalência maior se dá em cães adultos. Dentre estes processos patológicos podemos citar:
Tireoidite linfocitária - É caracterizada histologicamente por uma infiltração difusa de linfócitos e macrófagos no tecido tireóideo, levando a uma destruição progressiva dos folículos e substituição do parênquima glandular por tecido conjuntivo fibroso.
Atrofia folícular idiopática - Na atrofia folicular idiopática, há perda de tecido glandular com substituição por tecido adiposo.Outras causas menos comuns - Neoplasias: Carcinoma de tireóide e carcinoma das células escamosas são os tumores mais comuns, causando extensiva destruição da glândula tireóide.
Causas iatrogênicas:
Como causas iatrogênicas, podemos citar: a tireoidectomia cirúrgica, em tumores tiroideanos; intoxicação pelo uso de drogas com efeitos antitiroidianos (metimazone), ou pelo uso de terapias com iodo radioativo (iodine-131), no tratamento do hipertireoidismo que pode, por vezes, levar a ablação total da glândula Tireóide .
Hipotireoidismo secundário:
O hipotireoidismo secundário é resultante de uma falha no eixo hipófise-tireóide, caracterizado por uma deficiência de secreção de TSH das células tireotrópicas da hipófise.
Dentre as causas de hipotireoidismo secundário podemos citar a má formação da hipófise e destruição ou supressão das células tireotrópicas da hipófise.
Hipotireoidismo terciário:
O hipotireoidismo terciário é resultante de uma falha no eixo hipotálamo-hipófise. Essa falha pode ocorrer tanto por uma má formação no hipotálamo, como por uma destruição do mesmo pela presença de neoplasias, abcesso ou inflamações severas. Os níveis inadequados de TRH levam a uma atrofia da glândula tireóide. Por esse motivo, é muito importante o diagnóstico precoce das desordens da tireóide para posterior tratamento.
Congênito:
A incidência de hipotireoidismo congênito em cães é desconhecida, em geral os filhotes vêm a óbito precocemente. As causas documentadas de hipotireoidismo congênito incluem deficiência de iodo, disgenesia ou agenesia da tireóide.
Síndrome do Eutiroideo Doente:
Esta síndrome se manifesta na presença de uma doença concomitante, onde a mesma pode produzir uma profunda alteração na concentração sérica basal dos hormônios da tireóide pela falta de resposta da tireoide ao TSH pela supressão de hipófise ou mesmo do hipotálamo, sendo que as alterações das concentrações séricas de T3 livre e T4 livre são mais variadas e dependem em parte dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos com a doença.
Acredita-se que tal redução sérica de T3, T4 e, em muitos casos, de T4 livre, ocorra devido a uma adaptação fisiológica do corpo com o intuito de reduzir o metabolismo celular durante o período da doença. Cães eutiróideos doentes podem ter concentrações séricas dos hormônios da tireóide bem próximos ao limite para o hipotireoidismo e mimetizar hipotireoidismo ao teste de estimulação de TSH e TRH, retornando a valores normais após a remissão do processo.
O tratamento para a síndrome do eutiróideo doente deve ser focado para a doença concomitante. Uma vez corrigida a doença, os níveis séricos de T3 e T4 voltam ao normal.
3. Sinais Clínicos
Os hormônios tireoidianos são necessários para a manutenção da normalidade das funções metabólicas do organismo, portanto a severidade das manifestações clínicas do hipotireoidismo está relacionada ao intervalo de tempo e ao grau de deficiência dos hormônios.
Alterações metabólicas:
Os sinais clínicos metabólicos são os mais difíceis de serem notados pelo proprietário pois estes aparecem gradativamente. A severidade desses sinais tem relação direta com a duração do hipotireoidismo.
Os sinais clínicos mais comuns relacionados ao metabolismo do animal são a letargia, inatividade, ganho de peso sem aumento do apetite, intolerância ao frio (o animal procura lugares mais quentes), retardo mental e intolerância a exercícios. Outro sinal bem característico do animal com hipotireoidismo é a expressão de cansado ("facis tragica").A disfunção muscular é um aspecto freqüente na síndrome clínica do hipotireoidismo.
Alterações dermatológicas:
As alterações de pele e pelagem são os achados mais comuns de serem observados. Em 60% dos cães com hipotireoidismo há alterações dermatológicas. Os achados incluem pele seca, alterações na qualidade da pelagem (pelagem de filhote, pêlo quebradiço) ou na cor, alopecia uni ou bilateral e vários graus de hiperpigmentação.Seborréia seca ou oleosa, otite crônica externa e piodermite superficial são complicações secundárias associadas ao hipotireoidismo.
Alterações neurológicas:
Os cães podem apresentar neuropatias periféricas como paralisia do nervo facial, paralisia laringeal, ataxia, andar em círculos e fraqueza. Pode haver andar rígido do membro anterior com excessivo desgaste das unhas do membro acometido.
Alterações Reprodutivas:
Os sinais reprodutivos só aparecem tardiamente. Os hormônios da tireóide são necessários para a secreção de FSH e LH. Com isso, os animais passam a apresentar intervalos prolongados entre cios, falhas no cio, cio silencioso, perda da libido, atrofia testicular, oligospermia, azostemia, galactorréia e ginecomastia. A infertilidade é comum.
4. Diagnóstico
O diagnóstico do hipotireoidismo se faz a partir de uma boa anamnese, acompanhada de um exame clínico detalhado, observação dos sinais clínicos apresentados e exames laboratoriais específicos para cada espécie.
Exames laboratoriais:
Os hormônios da função tireoideana normalmente mensurados são o T4 total, T4 livre e TSH. O hormônio T3 possui pouca significância clínica, principalmente porque grande parte dele é formada pela deionização do T4 pelo fígado, rins e músculos, tornando-o um indicador pobre para tal avaliação.Outras dosagens podem ser realizadas para aumentarmos a especificidade do diagnóstico do hipotireoidismo, como, por exemplo, tireoglobulina, anticorpos anti-tireoglobulina e anticorpos anti-T4.Muito importante para o diagnóstico é confirmar a metodologia aplicada para tais mensurações, bem como a especificidade de cada método empregado.
Teste de Resposta ao TSH:
O hipotireoidismo é confirmado através do teste de estimulação com TSH. Esse teste consiste na dosagem sérica de T4 total e livre antes e após a administração de TSH. A coleta do soro, após a administração do TSH, deve ser realizada após um período de 4 horas (no caso de administração de TSH intravenoso) ou 8 horas (no caso de administração de TSH intramuscular), para a verificação sérica dos hormônios tireoideanos.Caso o paciente esteja sob terapia tireoideana, esta deve ser interrompida 14 dias antes da execução do teste.
5. Tratamento
O tratamento de hipotireoidismo diagnosticado consiste em reposição hormonal. A droga de escolha para se iniciar o tratamento é a levotiroxina sintética, pois esta resulta na normalização sérica das concentrações de T3 como de T4. A dosagem inicial é de 22 mcg/kg a cada 12 horas.O risco de hipertireoidismo iatrogênico é baixo, pois a regulação da conversão de T4 em T3 é preservada. A dose e a freqüência ideal para a manutenção do tratamento variam para cada paciente devido a oscilação na absorção e a meia vida sérica da levotiroxina. Os ajustes de dosagem e frequência ficam a critério da avaliação do médico veterinário.